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Mushin (Não pensar em nada - Mente Vazia)

Mu (vazia) shin (mente)

"Não se pensa em nada de definido, quando nada se projeta, aspira, deseja ou espera, e que não se aponta em nenhuma direção determinada e, não obstante, pela plenitude da sua energia, se sabe que é capaz do possível e do impssível...esse estado, fundamentelmente livre de intenção e do eu, é o que o Mestre chama de espiritual."

Herrigel - A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen.

Sabedoria Chinesa

Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira, está na originalidade de sua realização de atirador.

Quando atira para ganhar, instala-se em sua realidade uma cisão entre atirar e ganhar. E já fica nervoso.

Quando atira por um prêmio, fica cego.
Pela cisão vê ao mesmo tempo dois alvos.
Sua realidade é a mesma, mas as divisões o cindem.
Ele se pre-ocupa mais em ganhar do que atirar.
Vê mais o prêmio do que o alvo.

A necessidade de vencer lhe esgota a força de identidade!


Chuang-tzu - "Mestre Zhuang"
Filósofo taoísta chinês (369 a.c. / 286 a.c.)

13 julho 2008

O Tiro Esportivo é um Esporte!



Minha missão será conduzi-los na discussão sobre a técnica do tiro com armas curtas, ou seja, as modalidades do tiro esportivo com pistola e revólver, tendo como foco principal os métodos de treinamentos físicos, técnicos e psicológicos.

Mas antes de falar em técnica, vou roubar um pouco do espaço do Eduardo Ferreira e falar de história do tiro.

Iniciei minha carreira de atleta do tiro esportivo, por acaso, em 1976, quando Aspirante na Escola Naval. Após várias tentativas frustradas de encontrar um esporte, passando pelo tênis de mesa, voleibol, pólo aquático e pentatlo naval, busquei uma vaga na equipe de tiro da EN. Apesar de perseguir o sonho de ser um grande atleta em algum esporte, espelhado em meu pai, Iran Carvalho, que quando Cadete da AMAN e Tenente do EB havia sido recordista das FFAA nas provas de corrida de fundo e meio fundo (3000, 1500 e 800), a minha ida para o tiro não estava cercada de grandes pretensões. Eu realmente buscava apenas integrar uma equipe para usufruir das regalias que eram concedidas aos atletas, nada mais. Na realidade, eu estava cansado de tanto “ralar” e continuar como um atleta sem nenhuma expressão.

Ao me apresentar ao técnico, o Professor Silvino Fernandes Ferreira, fui informado que havia mais oito candidatos e uma única vaga para os, que como eu, cursava o terceiro ano. Como os integrantes do Coral tinham as mesmas regalias dos atletas, ao saber disso entendi que ou eu vencia a disputa pela vaga ou teria que passar os próximos dois anos cantando. Nada contra o coral, eu é que era muito desafinado.

Foi uma semana de treinamento e provas seletivas, até que o Mestre Silvino deu o seu veredicto: a vaga era minha. A forma com que esse personagem da minha história conduziu o processo de seleção, e a maneira carinhosa com que ele tratava os seus alunos, foi decisiva para reativar a minha chama pela busca de um esporte; algo me dizia que eu havia encontrado o meu caminho.

Para os que não sabem, Silvino é pai do Eduardo Ferreira, do qual recebemos preciosas informações históricas, nesse site.

As duas razões dessa breve introdução histórica são:

Primeiro, homenagear aquele que foi o responsável pela minha descoberta como atirador e pelo meu correto desenvolvimento técnico, desde o primeiro disparo. Se não fosse o Silvino, eu teria terminado minha passagem pela Escola Naval, como um desconhecido componente do Coral, e não teria ido a dois Jogos Olímpicos, Moscou (1980) e Los Angeles (1984). Graças a ele eu descobri que o Tiro Esportivo é o meu Esporte!

Segundo, para enfatizar a tônica dos meus futuros artigos: O Tiro Esportivo é um Esporte! Como tal, possui fundamentos que devem ser corretamente treinados, desde o início. Como tal, requer treinamentos físico, técnico e psicológico, exigindo uma equipe multidisciplinar e embasamento científico.

Sem dúvida, a minha iniciação correta, sob a orientação técnica do Silvino, apoiado pela equipe multidisciplinar do Departamento de Educação Física da EN constituiu um diferencial competitivo decisivo para o meu sucesso como atirador.

Essa iniciativa da TiroFlu abre um espaço importante para o desenvolvimento técnico dos nossos atuais atiradores.

Falo da necessidade de um acompanhamento correto e constante, por experiência própria. Em meados de 1991, encerrei precocemente minha carreira de atirador, em conseqüência de uma séria contusão no ombro direito, fruto de um treinamento físico inadequado de sustentação de peso, auto ministrado. Retornei ao esporte em setembro de 2004, quando vendo os baixos resultados da equipe brasileira, entendi que poderia e deveria colaborar com o desenvolvimento dos nossos atiradores.

Desde então, venho buscando conscientizar tanto os novos como os mais experientes, da necessidade de adotarem um programa de treinamento, elaborado com base nas modernas e científicas metodologias do treinamento esportivo, ao invés de irem ao estande simplesmente para “sedimentar erro”.

Nas minhas palestras, inicio sempre com uma frase do guru da moderna administração, Peter F. Drucker: “Não há nada pior do que fazer bem feito a coisa errada”. Fazendo um paralelo com a realidade do nosso esporte, fica claro que a principal causa do baixo rendimento da grande maioria dos nossos atiradores reside na prática de ir ao estande disparar, sem um adequado programa de treinamento.

O fato é que iniciar com um técnico competente, como tive a sorte, é uma raridade no cenário do tiro esportivo brasileiro. Como sou adepto a fazer parte da solução, e não do problema, prefiro perguntar “como?” no lugar do “por quê?”, buscando uma forma de proporcionar aos novos as mesmas condições que tive sob a orientação do Silvino.

Aqui cabe uma dica aos mais experientes: se o seu resultado é inconstante, estagnou ou está decaindo, “esvazie a sua xícara”.

Essa expressão vem de uma passagem muito interessante relatada pelo mestre de artes marciais, Bruce Lee a um praticante do karatê que lhe procurou para aperfeiçoar sua técnica. É a respeito de um mestre Zen japonês que recebeu um professor universitário que o procurou para informar-se sobre o Zen. Desde o início do encontro, ficou claro para o mestre que o professor não estava tão interessado em aprender sobre o Zen como em impressionar o mestre com suas opiniões e conhecimento. O mestre ouviu-o pacientemente, sugerindo ao fim que fossem tomar chá. Ao servi-lo, o mestre encheu a xícara do seu visitante e continuou despejando o chá. O professor olhava a xícara derramando, até que não conseguiu mais se conter e disse:

“A xícara está cheia! Não cabe mais!”

“Como essa xícara – tornou o mestre – você está cheio de suas opiniões e especulações. Como poderei mostrar-lhe o Zen, a menos que você esvazie antes sua xícara?”
(O Zen nas Artes Marciais – Joe Hyams – Editora Pensamento)

Agora estamos prontos para falar sobre treinamento de tiro esportivo.

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