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Mushin (Não pensar em nada - Mente Vazia)

Mu (vazia) shin (mente)

"Não se pensa em nada de definido, quando nada se projeta, aspira, deseja ou espera, e que não se aponta em nenhuma direção determinada e, não obstante, pela plenitude da sua energia, se sabe que é capaz do possível e do impssível...esse estado, fundamentelmente livre de intenção e do eu, é o que o Mestre chama de espiritual."

Herrigel - A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen.

Sabedoria Chinesa

Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira, está na originalidade de sua realização de atirador.

Quando atira para ganhar, instala-se em sua realidade uma cisão entre atirar e ganhar. E já fica nervoso.

Quando atira por um prêmio, fica cego.
Pela cisão vê ao mesmo tempo dois alvos.
Sua realidade é a mesma, mas as divisões o cindem.
Ele se pre-ocupa mais em ganhar do que atirar.
Vê mais o prêmio do que o alvo.

A necessidade de vencer lhe esgota a força de identidade!


Chuang-tzu - "Mestre Zhuang"
Filósofo taoísta chinês (369 a.c. / 286 a.c.)

13 julho 2008

Se o Tiro Esportivo é um Esporte, então você é um Atleta!



Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, acho oportuno fazer algumas colocações:

Tudo que escrevo nos meus artigos é fruto da minha vivência pessoal como atirador, do que aprendi no convívio com os técnicos Silvino Ferreira e Karl Schlomer, mais recentemente do trabalho como técnico da equipe brasileira que disputou os Jogos Pan-Americanos de 2007, da troca de experiência com os colegas atiradores, dos cursos que fiz e, principalmente, dos constantes estudos nas áreas relacionadas ao treinamento esportivo e ao comportamento humano.

Tenho como convicção, que a única certeza é que tudo se modifica constantemente. As “verdades” são momentâneas e aquele que pensa que sabe tudo, sucumbe na obsolescência e na ignorância. Na realidade, o melhor sempre é diferente. Se não fosse assim, seria no máximo, igual. Portanto pensem, questionem e divirjam, pois só assim poderemos melhorar.

Como frisei no meu artigo inicial, o Tiro Esportivo é um Esporte! Como tal, possui fundamentos que devem ser corretamente treinados, desde o início. Como tal, requer treinamentos físico, técnico, tático-estratégico e psicológico, exigindo uma equipe multidisciplinar e embasamento científico.

Relendo a afirmação acima, você atirador esportivo, deve estar pensando: isso é coisa para atleta! Meus parabéns, você acabou de chegar a uma conclusão muito importante: Você é um atleta!

Buscando o apoio do Dicionário Aurélio, chegamos às seguintes definições:
Atleta - toda pessoa que pratica um esporte.
Atirador - disparador de uma arma de fogo.

Atingimos então o ponto principal do nosso artigo de hoje: você tem o livre arbítrio para decidir entre ser um atleta do tiro esportivo ou apenas um disparador de arma de fogo. Mas se escolher a segunda opção, por favor, não “se encha o saco” cobrando-se resultado.

O Treinamento Esportivo é definido como sendo o processo ativo complexo regular, planificado e orientado para a melhoria do aproveitamento e desempenho esportivos. (Carl – 1989)

Complexo, por ser um processo ativo que visa obter determinados efeitos sobre todas as características de um atleta. Planificado, por preestabelecer objetivos, o método, o processo e a organização do treinamento, sendo a execução controlada e os seus efeitos / resultados avaliados regularmente através de testes, de modo que os objetivos visados sejam atingidos. Orientado, uma vez que todas as ações e procedimentos dentro de um treinamento esportivo levam a um caminho direto para se atingir os objetivos. (Jürgen Weineck – 2003)

Muitas vezes ao expor isso para alguns atiradores, recebo a seguinte resposta: eu não quero ser um campeão...vejo o tiro apenas como uma diversão. Pessoalmente, não acredito muito nessa afirmação, mas respeito a escolha.

Para mim, a grande diversão está exatamente em se superar, na obtenção do autocontrole emocional, em melhorar constantemente o seu desempenho. Quer coisa mais divertida do que subir ao podium para receber uma medalha de ouro? Mas, vamos em frente.

Quando em 2004 decidi me dedicar exclusivamente ao trabalho de técnico, sabia que teria muito a aprender, mas nem de longe imaginava o quanto.

Quanto mais estudo e aprendo, mais percebo a distância que nos separa das práticas modernas do treinamento esportivo. Na realidade, estamos iniciando os primeiros passos.

Para compreender melhor essa colocação, basta olharmos os nossos resultados internacionais nos últimos 15 anos. Todos nossos casos de sucesso foram frutos de trabalhos de equipes multidisciplinares, mesmo que de forma empírica. Vou citar apenas dois exemplos que caracterizam bem o que digo:

1- A medalha de bronze individual do Jodson Edington nos Jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata / ARG (1995). Apesar de não contar com uma equipe técnica especializada em Tiro Esportivo, o trabalho realizado foi abrangente e de certa forma planificado.
2- O trabalho feito nas Academias Militares, em especial na AMAN e na AFA, reunindo equipes multidisciplinares focadas no treinamento do Tiro Esportivo. Esse trabalho tem garantido a nossa renovação, produzindo a maior parte dos atletas integrantes da Seleção Nacional. Já colheu inclusive medalhas em Campeonatos Mundiais Militares.

É lógico que existem outros exemplos de sucesso, porém, fruto de grandes esforços pessoais, sem nenhuma base científica. Chamo isso de “achismo”.

Agora que muitos estão indignados e a ponto de me enviarem um e-mail “mal criado”, quero esclarecer o seguinte: essa realidade não é só nossa, é assim na maioria dos países.

Poucos são os que possuem escolas para capacitação de técnicos de tiro esportivo, incluindo uma grade curricular que contemple o exigido, para formação de um profissional realmente preparado para esse desafio.

Esse sem dúvida é o “segredo” das grandes potências olímpicas do nosso esporte: técnicos cientificamente formados apoiados por equipes multidisciplinares.

Junte-se a isso a disponibilidade dessas equipes em centros de excelência, e a iniciação na idade correta (9 a 11 anos) e, em pouco tempo, inicia-se a colheita das medalhas internacionais. Não de forma esporádica, mas constante.

Como falei, estamos dando os primeiros passos, e dentre esses se inclui a iniciativa do FFC com a implantação do Centro de Excelência do Tiro Esportivo Silvino Fernandes Ferreira - CETE.

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