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Mushin (Não pensar em nada - Mente Vazia)

Mu (vazia) shin (mente)

"Não se pensa em nada de definido, quando nada se projeta, aspira, deseja ou espera, e que não se aponta em nenhuma direção determinada e, não obstante, pela plenitude da sua energia, se sabe que é capaz do possível e do impssível...esse estado, fundamentelmente livre de intenção e do eu, é o que o Mestre chama de espiritual."

Herrigel - A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen.

Sabedoria Chinesa

Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira, está na originalidade de sua realização de atirador.

Quando atira para ganhar, instala-se em sua realidade uma cisão entre atirar e ganhar. E já fica nervoso.

Quando atira por um prêmio, fica cego.
Pela cisão vê ao mesmo tempo dois alvos.
Sua realidade é a mesma, mas as divisões o cindem.
Ele se pre-ocupa mais em ganhar do que atirar.
Vê mais o prêmio do que o alvo.

A necessidade de vencer lhe esgota a força de identidade!


Chuang-tzu - "Mestre Zhuang"
Filósofo taoísta chinês (369 a.c. / 286 a.c.)

13 julho 2008

Comece Certo

Recebi outro dia, um e-mail de uma atiradora iniciante pedindo minha opinião sobre sua participação numa etapa do Campeonato Brasileiro. Ela acabara de adquirir uma pistola de ar e estava ansiosa para competir.

Minha resposta foi: não aconselho.

Participando agora do Campeonato Brasileiro, ela estaria cometendo o erro mais comum da maioria dos iniciantes no Brasil: estrear em competição sem a devida preparação teórica, técnica, tática, física e psicológica.

A pergunta nesse caso é muito simples: você iria ao campeonato brasileiro de karatê, jiu-jitsu ou tae-kuon-dô, apenas por ter comprado um quimono, mesmo que fosse o melhor quimono do mundo? Certamente, não. Seria no mínimo doloroso.

Ocorre que ir a uma competição de tiro esportivo de nível nacional, sem o devido treinamento, para fazer um monte de disparos errados e ficar em último lugar, aparentemente não dói nada. Há os que acham natural que um iniciante perca, ou seja, fique em último lugar numa competição deste nível.

O problema é que dessa forma, inicia-se pelo “des-trenamento”, onde o prefixo “des” não significa ação inversa, mas literalmente a des-truição de um possível futuro campeão.

Participando de um campeonato sem a devida preparação, a única coisa que se está criando e fixando é o hábito de perder, um trauma psicológico muito mais danoso do que qualquer trauma físico que um atleta possa ter.

Cabe ressaltar, que o mesmo pode ocorrer com atiradores mais experientes, e não só com os iniciantes. Levar um atirador que está despontando no cenário nacional para uma Copa Mundial, sem antes proporcionar a devida adaptação às competições internacionais, participando em provas de menor importância (uma competição internacional do seu continente, por exemplo), certamente irá causar o mesmo dano.

Acredito que todos conhecem a história do atirador húngaro Karoly Takacs. Bicampeão olímpico de tiro rápido; venceu a prova nos Jogos Olímpicos de Londres (1948), perdeu a mão direita em um acidente em 1949, e tornou a vencer em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinki, atirando com a mão esquerda.

O extraordinário feito de Takacs só foi possível porque o mais importante no nosso esporte é a preparação psicológica do atleta. Ele havia perdido a sua mão direita, mas não havia perdido a confiança na sua técnica, nem sua auto-estima, mantendo intacta a sua crença na vitória.

Mais do que a preparação técnica, tática e física, no tiro esportivo, a psicológica define quem ganha e quem perde, e o seu correto treinamento é responsável pela formação do caráter competitivo do atirador, desde o seu primeiro dia nesse esporte.

Formar um campeão requer mais do que comprar uma arma e ter um estande e munição para atirar. Na realidade, sua formação tem início nos primeiros anos de vida, ou seja, nos primeiros movimentos, quando inicia o aprendizado e desenvolvimento das suas habilidades motoras. Desde então, a influência externa é decisiva na modelagem do seu comportamento futuro diante dos obstáculos que terá que enfrentar, tanto no esporte como na vida.

Diariamente, jovens procuram os clubes de tiro do país impulsionados pelos mais diversos motivos, e são recebidos com entusiasmo pelos diretores e atiradores. Porém, muito poucos recebem a correta orientação, simplesmente pela falta de preparo dos que lhes dão as boas vindas.

Como vimos em artigos anteriores, o aprendizado e o treinamento da ação motora do disparo só terão êxito se elaborados e executados como um processo pedagógico, partindo do simples para o complexo, gerando e fixando hábitos corretos que permitirão o desenvolvimento progressivo do atleta.

Antes de o iniciante começar a atirar, ele deve conhecer: o funcionamento da arma e os princípios teóricos da balística interna e externa, os fundamentos do processo de aprendizagem e treinamento das habilidades motoras, os exercícios iniciais de cada elemento do tiro esportivo, para só então iniciar o aprendizado e treinamento do processo de disparo.

O programa de treinamento inicia-se sempre pela preparação física geral, dando ao atirador condições de sustentar a arma com a estabilidade mínima necessária, e adequando o seu organismo para suportar o treinamento físico especial, que ocupará grande parte da sua atividade de treinamento como atleta do tiro esportivo.

Durante esse processo pedagógico, a preparação psicológica também é levada a cabo de forma progressiva, incluindo no programa de treinamento, exercícios que visam o desenvolvimento das habilidades psicológicas necessárias ao atleta do tiro esportivo, consolidando no dia a dia o caráter do futuro campeão.

Em paralelo, deve-se iniciar uma dieta alimentar condizente com a nova condição de atleta de um esporte olímpico. Se tiver algum hábito nocivo, como beber ou fumar, essa é uma boa ocasião e uma forte razão para abandoná-lo.

Leia atentamente o manual da sua arma, conheça o seu funcionamento e a função de cada parafuso, bem como suas características técnicas. Leia o livro de regras da ISSF, principalmente os capítulos referentes à modalidade que irá praticar.

Fica então a sugestão para os iniciantes: mais importante do que dar o primeiro passo, é dá-lo na direção correta. Não percam a oportunidade de começar certo.

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