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Mushin (Não pensar em nada - Mente Vazia)

Mu (vazia) shin (mente)

"Não se pensa em nada de definido, quando nada se projeta, aspira, deseja ou espera, e que não se aponta em nenhuma direção determinada e, não obstante, pela plenitude da sua energia, se sabe que é capaz do possível e do impssível...esse estado, fundamentelmente livre de intenção e do eu, é o que o Mestre chama de espiritual."

Herrigel - A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen.

Sabedoria Chinesa

Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira, está na originalidade de sua realização de atirador.

Quando atira para ganhar, instala-se em sua realidade uma cisão entre atirar e ganhar. E já fica nervoso.

Quando atira por um prêmio, fica cego.
Pela cisão vê ao mesmo tempo dois alvos.
Sua realidade é a mesma, mas as divisões o cindem.
Ele se pre-ocupa mais em ganhar do que atirar.
Vê mais o prêmio do que o alvo.

A necessidade de vencer lhe esgota a força de identidade!


Chuang-tzu - "Mestre Zhuang"
Filósofo taoísta chinês (369 a.c. / 286 a.c.)

28 dezembro 2008

Exercícios para o Fundamento Acionamento

Nesse artigo, vamos descrever dois exercícios para o fundamento acionamento, os quais poderão ser realizados seguindo a ordem aqui estabelecida, ou poderão ser executados junto com outros exercícios, ou mesmo individualmente, conforme a necessidade e a disponibilidade de cada atleta.


Recomendo que antes de prosseguir, releiam os artigos: “Acionamento” e “Você erra e o acionamento leva a culpa”.


Cabe relembrar a metodologia que adotamos: primeiro definir local e material necessário à realização do exercício. Em seguida, relembrar as premissas determinantes para construção do modelo mental do fundamento, ação motora ou gestual, clarificar a meta a ser atingida, levando-se em conta o fundamento e o exercício proposto. Por último, apresentamos o exercício e as considerações pertinentes à sua execução.

1º Exercício

Acionamento sem Pistola

Esse exercício é a base para o fundamento acionamento e pode ser feito em qualquer lugar e a qualquer hora, requerendo do atleta apenas a disciplina de realizá-lo diariamente, pelo menos duas vezes ao dia.

Local e Material

Pode ser feito no estande (posto de tiro), em casa, ou em qualquer outro lugar e momento do dia. Não necessita de nenhum material de apoio, nem mesmo a pistola. Pode ser realizado na posição de disparo ou não. O importante é que a mão se posicione como se estivesse empunhando a pistola, ou seja, com os dedos na mesma posição que assumem quando empunham a arma. Dessa forma, ele poderá ser realizado em duas situações: a) na posição de disparo, sendo feito no estande, em casa ou em qualquer outro local que o atleta possa assumir a posição de disparo (no escritório, por exemplo); b) de pé ou sentado, sem assumir a posição de disparo, mas com a mão que empunha a arma posicionada como se estivesse empunhando.

Premissas

Entende-se por um correto acionamento, aquele que permite comprimir e/ou mover a tecla do gatilho por uma força executada pela flexão do dedo indicador, aplicada num eixo paralelo ao cano da arma, incrementada de forma progressiva e ininterrupta, com intensidade necessária a vencer o peso do gatilho, sem que esse movimento altere a pressão que os outros músculos da mão exercem no empunhar a arma.

Meta

Fixar como hábito a flexão independente do dedo do gatilho.

Exercício

Repasse o modelo mental do acionamento, visualizando em seguida o movimento correto de flexão do dedo. Na situação “a”, levante o braço com o mesmo gestual do disparo, levando a mão até a altura da ZV (zona de visada). Passe 100% da sua atenção para o dedo do gatilho e inicie o movimento de flexão, para trás e para frente, como se realizasse disparos seqüenciais. Enquanto trabalha o dedo, sustente 100% da atenção no movimento independente do dedo, de forma a manter os demais músculos da mão imóveis. É importante lembrar que a mão deve assumir a mesma “forma” de quando empunha a arma, inclusive com a mesma inclinação de punho. O tônus dos demais músculos da mão deve permanecer constante durante o movimento de vai-vem do dedo indicador. Na situação “b”, o processo é o mesmo, sendo o exercício executado sem assumir a posição de disparo.

Em ambos os casos, o exercício poderá ser feito de olhos abertos ou fechados. Quando de olhos fechados, você estará interiorizando a atenção e controlando o trabalho muscular através das informações proprioceptivas, tanto da flexão independente do dedo indicador, quanto da manutenção do tônus dos demais músculos da mão. Utilize a visualização mental da imagem do dedo indicador “separado” do resto do seu corpo, como se fosse um “ser” independente. Quando de olhos abertos, aproveite a informação visual da imobilidade dos demais músculos da mão, como feedback durante o movimento de flexão do indicador. Uma variante interessante é alternar exercícios de olhos fechados com abertos.

Sempre que possível, faça o exercício na posição de disparo. Porém, durante o dia haverá muitas situações em que você poderá treinar o fundamento acionamento, como por exemplo, durante os trajetos de carro, metrô ou ônibus. São períodos do dia, aparentemente inúteis, que a partir de agora serão incorporados de forma muito produtiva ao seu programa diário de treinamento.

2º Exercício

Acionamento com Pistola

Esse exercício deve ser realizado preferencialmente após o exercício anterior, e será subdividido em três fases.

Local e Material

Pode ser feito no estande (posto de tiro) ou em casa. Cabe relembrar, que para realizá-lo em casa, necessitamos de um círculo, representativo da zona de visada, impresso em uma folha branca de papel, posicionado na altura calculada pela proporção entre a altura da zona de visada a 10 metros e à distância que o atirador se posiciona desse círculo representativo. Essa distância não deve ser superior a 2 metros. Quanto mais perto da parede melhor.

Premissas

Idem.

Metas

Definir o posicionamento da tecla do gatilho (para as armas que permitem ajuste de posição da tecla) e a posição do dedo indicador na tecla. Fixar o hábito correto do acionamento.

Exercício

Ao descrever as três fases do exercício, seremos propositadamente repetitivos na descrição dos passos de cada fase.

1ª Fase: Assumir a posição exterior. Olhando fixamente para a zona de visada (acerto da posição da cabeça), repassar mentalmente a lista de verificação (POSIÇÃO - relaxar os grupos musculares desnecessários e ativar o tônus muscular dos necessários à sustentação da arma e do controle da posição; EMPUNHADURA - perceber o contato homogêneo da mão no cabo da arma; e posicionamento do DEDO NO GATILHO - perceber o contato do dedo na posição certa) e o modelo mental do acionamento correto. Sem armar o mecanismo do gatilho (para as armas que possuem o recurso de tiro em seco), levantar a arma de olhos abertos, executando o mesmo movimento utilizado para o disparo. É importante alinhar a figura de visada acima do alvo, firmando o tônus muscular do punho para só então baixar a figura até a zona de visada, num movimento vertical uniforme que permita entrar na zona de visada com a figura alça/massa corretamente alinhada. Aguarde o início da estabilização do braço e mantendo os olhos abertos, passe toda a atenção para o dedo indicador e realize a pressão na tecla do gatilho. Se você estiver aplicando corretamente a força de acionamento, a figura de visada (alça/massa) deverá permanecer alinhada. Se a massa se deslocar para um dos lados, é sinal que a força de acionamento aplicada está produzindo uma componente lateral que está provocando o desalinhamento. Nesse caso, altere a posição da tecla do gatilho e/ou do dedo na tecla até que consiga pressionar sem alterar a figura.

2ª Fase: só deve ser iniciada após ter realizado corretamente o exercício da fase anterior pelo menos umas dez vezes. Repassar a lista de verificação e o modelo mental do acionamento correto. Sem armar o mecanismo do gatilho (para as armas que possuem o recurso de tiro em seco), levantar a arma de olhos abertos, executando o mesmo movimento utilizado para o disparo. É importante alinhar a figura de visada acima do alvo, firmando o tônus muscular do punho para só então baixar a figura até a zona de visada, num movimento vertical uniforme que permita entrar na zona de visada com a figura alça/massa corretamente alinhada. Aguarde o início da estabilização do braço e feche os olhos, passe toda a atenção para o dedo indicador e mantendo o dedo em contato com a tecla do gatilho, realize a pressão e alivie a pressão, durante cerca de 30 seg., procurando trabalhar o dedo indicador para trás e para frente, de forma independente, sem influenciar o tônus dos demais músculos da mão que empunha a arma.

3ª Fase: Repassar a lista de verificação e o modelo mental do acionamento correto. Armando o mecanismo do gatilho (para as armas que possuem o recurso de tiro em seco), levantar a arma de olhos abertos, executando o mesmo movimento utilizado para o disparo. É importante alinhar a figura de visada acima do alvo, firmando o tônus muscular do punho para só então baixar a figura até a zona de visada, num movimento vertical uniforme que permita entrar na zona de visada com a figura alça/massa corretamente alinhada. Aguardar o início da estabilização do braço e feche os olhos, passe toda a atenção para o dedo indicador e realize a pressão na tecla do gatilho até desarmar o mecanismo e produzir o tiro em seco. Mantenha os olhos fechados, “congelando” por um momento a atitude de disparo. Abra os olhos e verifique se a figura de visada se encontra alinhada e na ZV.

É ideal que esse exercício seja executado após os anteriores, porém pode ser feito também de forma isolada, como por exemplo, durante a preparação ou aquecimento para uma competição, quando é utilizado para trazer para a memória de curto prazo o movimento correto de acionamento.

Analisando o processo de disparo, chegamos à conclusão que ele é composto basicamente pelos dois fundamentos que abordamos até o momento. Na realidade, a equação do Tiro Certo só possui duas “variáveis”: posição e acionamento. Se mantivermos sempre a mesma posição do conjunto arma/atirador em relação ao alvo e acionarmos a tecla do gatilho sem alterá-la, após realizarmos 1000 disparos teremos como resultado um agrupamento que só dependerá da qualidade da nossa arma e da munição utilizada. É assim que funciona uma estativa, sendo essa, no nosso entender, a base do treinamento do Tiro Esportivo. Cabe lembrar, que quando falamos de posição do conjunto arma/atirador, estamos incluindo a empunhadura (física e técnica) como componente importante e aglutinadora desse conjunto.

Podemos então concluir que os exercícios vistos até o momento formam o alicerce do treinamento técnico do atleta do Tiro Esportivo e irão ocupar um papel de destaque na elaboração do nosso programa de treinamento.


Silvio Aguiar

silvio.aguiar@gmail.com


Um comentário:

Anônimo disse...

Silvio,
Como sempre um excelente artigo!
Parabéns.

Milton